A experiência latino-americana: reflexões sobre erros e acertos
Momentos de forte crescimento econômico intercalados por estagnação. O chamado “Stop and Go”, que é uma característica da economia dos países latino-americanos, é fruto das escolhas dos governos cujos impactos atingem a curto e longo prazos toda a cadeia produtiva.
A adoção de uma estratégia de investimentos em educação e tecnologia, como assim o fez os países mais avançados ao longo de sua história, seria a solução mais sensata para minimizar graves problemas enfrentados. A educação é a chave para o desenvolvimento de um país e também é uma opção de longo prazo, com projetos e decisões que, sejam vistas como pacto entre políticos, independente de correntes ideológicas, e a sociedade. Na edição dessa semana da coluna Logística Portuária vamos analisar a experiência industrial latino-americana.
Vale lembrar que, os países latino-americanos, em especial os que compõem o chamado Cone Sul – Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai – têm sua industrialização iniciada a partir da matriz agropecuária. O processo de industrialização na América Latina é resultado direto dos impactos da crise de 1929. O Brasil, por exemplo, era um dos maiores exportadores de café do planeta naquela ocasião, o que representava 70% das exportações do país e responsável por 60% das vendas internacionais.
Com a crise, o governo Vargas comprou, a titulo de indenização, e queimou parte da produção – 18 milhões de sacas de café – na expectativa que a situação internacional melhorasse. A vizinha Argentina, grande exportadora de carne, registrou nesse período uma queda catastrófica com suas exportações caindo pela metade. A grande lição tirada com a crise de 1929 para a região foi o desenvolvimento do projeto de substituição de importações, ou seja, investimentos massivos na industrialização.
A atividade industrial se converteu no grande motor do crescimento entre 1945 a 1976 e atrelado a isso veio criação de emprego e acumulação de capital. Nessa mesma fase, a transferência de tecnologia através de participação de empresas estrangeiras foi uma ferramenta eficaz. No Brasil as joint ventures, no chamado modelo tripartite, com participação igualitária de governo, empresa nacional e estrangeira, propiciou o desenvolvimento da indústria petroquímica nacional.
O modelo só foi alterado em 2001 com as privatizações, quando foi preciso uma reestruturação das empresas do setor buscando a modernização. Dessa fase surge a Braskem, que se torna um empreendimento modelo de cadeia global de valor para a América Latina.
Focar a produção industrial para o mercado interno foi uma das características do desenvolvimento industrial latino-americano, fazendo uso de medidas protecionistas e subsídios para salvaguardar os interesses da indústria nacional. Se por um lado a proteção foi algo prioritário, por outro representou o atraso, com oferta de produtos a preços altos e baixa qualidade.
O baixo investimento em tecnologia e educação contribuiu para piorar a situação e aumentar o abismo sócio econômico em que os países da região se veem mergulhados.
Na maioria das nações avançadas, a industrialização é pressuposto de mudanças profundas na sociedade a partir de investimentos expressivos em ciência e tecnologia. Mais de 50% do crescimento econômico nesses países deriva da inovação tecnológica.
Outros fatores negativos para a América Latina são os elevados impostos, alto grau de corrupção e os impactos dos problemas financeiros oriundos de crises econômicas, inflação e estagnação.
Atualmente, a utilização de commodities como carro-chefe das exportações tem gerado a chamada doença holandesa, que contribui para o processo de desindustrialização, mais acirrado a cada dia com a competição da indústria chinesa.